domingo, 27 de dezembro de 2015

ACALANTO PARA BIA


Naquelas noites calmas de céu cintilante,
Decerto tu não sabes, mas quando adormeces
Serenamente, logo após as tuas preces,
Um leve vulto se aproxima, hesitante. 

Qual anjo protetor, atento e vigilante,
Ao pé de ti, quieto, depõe suas benesses,
Os novos sonhos que ainda não conheces,
Para alimento de tua alma confiante. 

Este anjo mudo, amada minha, é meu zelo
Que afugenta qualquer triste pesadelo
Que te perturbe o sonho enquanto estás dormindo; 

Que junto a ti tresnoita, neste forte anelo
De atender de pronto a qualquer teu apelo
Só por ganhar-te esse sorriso doce e lindo!

 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Natal - a data


Crônicas natalinas - A data


Eventos como o Natal deveriam ser celebrados diariamente, não importando o que diga a folhinha – se não com luzes, presentes e ceias, pelo menos com o coração.

Dito o importante, vamos ao interessante.

Setembro, Outubro, Novembro, Dezembro: sete, oito, nove, dez.

Não parece estranho que os meses de nove a doze tenham nomes de sete a dez?

Essa confusão tem mais de dois mil anos de idade. O calendário romano daquela época compunha-se de dez meses – quatro nomeados em honra a deuses e os demais simplesmente chamados pelos seus números: Martius, Abrilis, Maius, Junius. Quintilis, Sextilis, Septembris, Octobris, Novembris e Decembris.

Ano sim, ano não, um mês extra – Mercedonius – era incluído. O resultado era uma sequência irregular de anos com 355, 377 ou 378 dias cada um.

Em 46 AC Júlio César resolveu acabar com a bagunça e, com a assessoria do astrônomo Sosígenes, instituiu o calendário hoje conhecido como Juliano. Ele acrescentou mais dois meses – Unodecembris e Duodecembris – e eliminou o mês intercalar (Mercedonius), substituindo-o por um único dia que seria acrescentado a cada três anos ao último mês – Duodecembris, o famoso ante die bis sextum kalendas martias.

Mas havia erros acumulados a ajustar, e por conta deles aquele ano acabou durando 445 dias. Com a confusão reinante, os romanos passaram a considerar Unodecembris e Duodecembris não como os últimos, mas como os primeiros do ano seguinte, dando-lhes nomes em honra de Janus – Januarius – e Febo – Februarius.

Em 44 a. C., o senado  homenageou Júlio César, trocando o nome do mês Quintilis para Julius. E sessenta anos depois César Augusto mudou o intervalo dos bissextos de três para quatro anos e recebeu a mesma homenagem, quando o mês Sextilis passou a se chamar Augustus – roubando um dia de Februarius para ficar com os mesmos 31 do ilustre antecessor... ô vaidade!

Mas o que isso tem a ver com o Natal?

Bem, naquela época ainda era grande a confusão no calendário. E os judeus seguiam um calendário próprio (que usam até hoje), sem relação com o calendário romano. E no meio da confusão, a data real do nascimento de Jesus perdeu-se – parece que definitivamente.

A data de 25 de dezembro foi adotada pela Igreja, já no século IV, para contrapor-se às festas pagãs do solstício de inverno, entre as quais a Saturnália romana e o festival do Sol Invictus..

Mas existem alguns indícios que permitem uma pesquisa sobre a data aproximada do evento. As fontes históricas mais confiáveis são os evangelhos canônicos de Lucas e Mateus, alguns textos dos apócrifos, os registros do Templo de Jerusalém e os escritos de Tácito, Plínio, o moço, Suetônio e Josefo.

E o que nos dizem essas fontes?

Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande – o rei-fantoche designado pelos romanos, que ordenou a tristemente famosa "matança dos inocentes". Ora, Herodes morreu no ano 4 a.C., de modo que Jesus deve ter nascido uns dois ou três anos antes. E sabemos que José foi com Maria a Belém para cumprir a ordem da autoridade romana que exigia, para o censo, que o registro fosse feito na cidade de origem do chefe da família.

Em Belém, o censo ocorreu no mês Sextilis (posteriormente agosto) do ano 7 a. C.

Mais uma pista: a apresentação dos recém-nascidos no templo e a purificação de suas mães tinha um prazo máximo de 21 dias após o parto, pelas normas judaicas. Jesus foi apresentado no templo de Zacarias, segundo os registros locais, no mês de Setembro, num sábado. Ora, o mês de Setembro do ano 7 a.C. teve quatro sábados: 4, 11, 18 e 25. Como os censos em Belém ocorreram entre 10 e 24 de Agosto, o sábado de apresentação seria o de 11. E assim, Jesus teria nascido entre 21 e 30 de Agosto do ano 7 a.C.

Bem, espero vocês tenham apreciado, que o Leonel não tenha tido dores de cabeça e que o Jair não tenha ficado matutando demais em frente à folhinha – pois dito o interessante, voltemos agora ao importante:

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Quid pro quo

A Teoria dos Conjuntos fornece-nos bons esquemas para ilustrar áreas de convergência ou de conflito nos relacionamentos humanos. Veja a figura:
Não incluí outras religiões para não complicar. O amigo leitor poderá fazê-lo à vontade.
A Torá e o Talmude situam-se na área J. O Corão, na área I. O Novo Testamento, na área C.
Na área JC está o Velho Testamento. Textos sagrados, rituais e tradições têm seus lugares cativos neste esquema.
Esquemas semelhantes podem ser construídos. Exemplo:
NCR - Natureza, Ciência e Religião.
RS - Realidade e Sonho.

Gosto de imaginar esquemas e procurar meu próprio lugar dentro deles - seja como um ponto minúsculo ou como um círculo mais ou menos abrangente.
Talvez meus leitores se divirtam fazendo o mesmo.
Qual seria o lugar da Inquisição? da alma? da arte? do Estado Islâmico? da Filosofia? de Deus?

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Para Denise


"Se amor fosse questão de merecimento, teria peso e medida e seria vendido a metro ou a quilo". Bate-papo com Denise, MSN, 6/4/13

"Um livro fechado é um sono sem sonhos". Comentário a Denise, 23/9/12

"Quando a chuva faz as pazes com o sol, eles se amam. E nasce o arco-íris". Comentário a Denise, 12/9/12

"Cego às distâncias do Espaço, surdo ao tiquetaque do Tempo, segue o Amor. Fere a mão no espinho, mas acaricia a rosa. Corta o pé na pedra, mas não abandona o caminho, e prossegue. Não sabe onde vai chegar, pois seu querer não é acomodar-se, é sempre seguir adiante. E vai em busca do inalcançável, e o alcança fora do Tempo e do Espaço... numa Poesia". Comentário a Denise, 2/6/12

"Mais gratificante que a juventude do corpo deve ser a juventude da alma". Comentário a Denise, 24/5/12

"A saudade é um bem precioso, que insistimos em transformar em sinônimo de perda". Por Denise, em comentário a uma postagem minha sobre a saudade, julho 2011

Hoje é um dia especial. E por conta disso, vesti teu sonetinho com um traje mais formal...   um esquema de rimas black-tie, perfeito para a ocasião.

BARGANHA
Dou-te um milhão pelos teus pensamentos
E cedo por dez réis de mel coado
Este versejamento mal cuidado
Só por ficar contigo alguns momentos.

Dou-te cem beijos... não, dou-te duzentos
Por um olhar maroto e dourado

E arremato num só lance ousado
Os teus suspiros, que se vão aos ventos.

Dou-te mil versos, só para começo,
Por um sorriso, que eu não mereço,
Dos lábios orvalhados de luar;
 
E por um beijo teu eu ofereço
Aquilo a que ninguém pode por preço:
O mar do meu amor, o mor do meu amar.
 
Feliz aniversário, Poesia!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Dia da Aviação


Céu de brigadeiro. O grande quadrimotor voava lentamente, flaps a cinquenta por cento, perdendo altura enquanto circulava em torno de duas pequenas ilhas, perdidas na imensidão azul do Atlântico. O atol das Rocas era uma das referências – um “fixo” de navegação – previstas nos voos de experiência do novo sistema de navegação inercial, em fase de testes de aceitação pela FAB.

O coronel Etraud avançou levemente as manetes de aceleração, e o ronco suave dos motores ficou ligeiramente mais audível. O major Pagani verificou a RPM e o torque dos motores. O Hércules estabilizou-se em uma órbita baixa em torno das duas ilhotas, como uma mariposa atraída pela luz.

O capitão Rabello checou rapidamente cerca de quarenta instrumentos, ajustou alguns controles e, satisfeito, recostou-se na sua poltrona para contemplar o incrível panorama que se descortinava através das grandes e numerosas janelas da espaçosa cabine de voo. Com sua experiência, ele confiava nos pequenos ruídos que se misturavam ao ronco dos motores para alertá-lo sobre qualquer quebra na rotina. O avião falava com ele.

O tenente Barcellos, o mais novo da tripulação, ainda não conhecia os segredos desse diálogo entre o homem e a máquina, mas confiava nos companheiros mais antigos, e também desviou sua atenção para o espetáculo paradisíaco.

No compartimento de carga, os doze sargentos que compunham o grupo de especialistas fizeram uma pausa nas suas atividades de monitoração e teste dos diversos sistemas da aeronave e também se amontoaram junto às vigias redondas de observação. Tinham 15 minutos antes de reassumir seus postos.

Os que viam pela primeira vez esse panorama estavam mudos. Os poucos "antigões" que conheciam o atol e suas histórias terríveis narravam em voz baixa os episódios macabros, colorindo-os com detalhes fantásticos, conforme lhes parecia mais adequado.

- Pois é - explicava-me o sargento Lindolfo, - o navio encheu o reservatório de água com óleo diesel, por engano, e zarpou antes que o faroleiro percebesse o que tinha acontecido. Quando voltou, um mês depois, todos tinham morrido de sede -- o casal e os dois filhos.

- É - complementava Bonfim, um segundo-sargento negro como a noite. - Uma noite ele botou fogo na casa, para chamar a atenção de um navio que passava, mas não conseguiu nada...

- Tá vendo a ilha menor? Chama-se Ilha do Cemitério - dizia Pereira, o instrumentista. Tem mais de trezentos túmulos lá, entre faroleiros, familiares e náufragos!

Entre fatos históricos e lendas, realidade e fantasia, o que mais me impressionou na época - já se vão mais de trinta anos! - foi o contraste entre o aspecto paradisíaco do atol e as histórias macabras a ele associadas. E muito tempo depois tive oportunidade de conferir essas histórias com documentos fidedignos.

Os quinze minutos haviam passado. O comandante acionou a campainha. A tripulação voltou a seus postos.

- Comandante a postos - a voz tranquila do coronel soou no "Public Adress".

- Co-piloto a postos!

- Mecânico a postos!

- Navegador a postos!

- Mestre de carga a postos! Tudo amarrado e seguro!

O coronel avançou as manetes até os torquímetros marcarem 12 mil libras. O ruído dos motores aumentou. O avião ganhou velocidade.

- Recolher flaps!

- Flaps recolhidos!

Ganhando altura lentamente, o quadrimotor fez uma ampla curva à direita e aproou para seu próximo destino - Fernando de Noronha.
 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Dia a dia

(Inspirado num texto de Si Fernandes)

Eu ando desencantado
Com esse saco sem fundo
Que se chama dia-a-dia
Subversor do meu mundo
Devorador de energia
Ladrão de horas e sonhos
Gatuno de horas de sono,
Que não pausa um só segundo
No carcomer-me a alma
No mergulhar-me na lida,
No sonegar-me a calma,
No sepultar-me em vida;
Nesta infindável labuta
Nesta ingente disputa
Nesta malparada luta
Batendo com força bruta
Mas busco forças ainda
Para vencer meu calvário
E encontro-as num Relicário
Como uma joia linda
Encontro-as no teu sorriso,
No teu olhar indeciso
Entre fitar-me e esconder-se;
Na tua face graciosa,
No teu perfume de rosa;
E meu corpo se levanta
Meu cansaço se evola
Minha alma exsurge e canta
Retorna minha alegria
Meu querer se agiganta
E eu derroto o dia-a-dia.

sábado, 3 de outubro de 2015

Há quatro anos...


Outubro de 2011

Chuva de inverno


Está frio, e chove. Embrulho-me no meu puído manto de esperança e abrigo-me sob o guarda-chuva rasgado de um otimismo falso. Mas o vento cortante da tristeza insiste teimosamente em trazer-me as gotas grossas e geladas da solidão, enquanto a espessa neblina cinzenta da saudade, mal iluminada pelo solitário lampião das recordações, paira como uma mortalha sobre a rua escura e vazia que é minh'alma.

Incomoda, essa luz espectral, amarelenta e morta do velho lampião. Parece sólida, como se fosse tinta, pintando cada gota de chuva com cores doentias...

O tempo gruda-se em meus dedos, como uma massa amorfa, feita de momentos desconexos. Vislumbro ao longe, no limiar da visão, um fantasma silencioso e meditativo. É teu vulto, talvez, perdido no infinito espaço vazio que existe entre duas camadas de eternidade.

Quero seguir-te. Quero alcançar-te. Mas não posso. E choro a minha renúncia em lágrimas ausentes e vazias. E percebo, enfim, que também eu sou um espectro extraviado, vagando em um mundo que não é o meu.

Choro. E sobre mim continua chovendo esta tristeza... esta solidão...

terça-feira, 29 de setembro de 2015

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Loucura


     O tempo que nunca existiu não deixou saudades. Os sonhos nasceram mortos e foram enterrados no sopé da colina azul. O vento aqui não sopra. Nuvens imóveis escondem um sol negro, e os segundos estão esculpidos na face cinzenta e fria da eternidade.
     O crepúsculo não chegará. Não há flores ou frutos. Não há ódio, pois não há amor. Não há tristeza, pois não há alegria. Não há morte... não há vida. E nos mares sombrios desse tempo inexistente vagueia sem rumo a nau do esquecimento, sobrecarregada de pesados nadas. Naufrágio eterno de um espectro que se perdeu de si mesmo.
     Os olhos cegos do timoneiro desmemoriado estão abertos e fixos num horizonte vazio. Em sua boca mora o sussurro rouco de uma canção sem palavras, que ecoa surdamente no cavername dos porões inundados.
     A bússola gira loucamente, em busca de um Norte que não existe. Pendem das vergas farrapos cansados, retalhos imóveis sob o peso do silêncio. E o tempo está congelado em ondas perpétuas de escuridão.

     Loucura.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Ego inVerso

De hoje até domingo, dia 13, Ego inVerso está em promoção. O e-book Kindle é gratuito na Amazon brasileira e o livro impresso tem várias opções de preço, acessíveis nos links da guia "Livros", no cabeçalho desta página. Eis um dos poemas de Ego inVerso:
 

terça-feira, 23 de novembro de 2010


Eu sempre me achei muito seguro. Para mim, a Rê e seus colegas psicólogos estariam desempregados se todos fossem como eu.
Ledo engano. Nesses últimos dias, mergulhado na tristeza da perda de Maria Helena, ela, sem que eu percebesse, me analisou, fez seu diagnóstico e me prescreveu a melhor terapia: escrever. E soube induzir-me ao tratamento: mandou-me em comentário, há alguns dias, um soneto do Mário Quintana que já se havia sumido de minha lembrança:

Ah! os Relógios!

Amigos, não consultem os relógios
Quando um dia eu me for de vossas vidas,
Em seus fúteis problemas tão perdidas
Que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
Não o conhece a vida - a verdadeira -
Em que basta um momento de poesia
Para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
Somente por si mesma é dividida:
Não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
Quando alguém - ao voltar a si da vida -
Acaso lhes indaga que horas são...

Pois não é que o bendito sonetinho ficou me azucrinando as ideias? Foi de propósito, né, dona Rê?
Bem, tenho uma superabundância de tempo - que, conforme alerta Mark Twain, não é dinheiro - e resolvi exorcizar o soneto tomando-o como mote e compondo uma glosa, em tercetos:

Glosa

Não quero constar de Martirológios;
E se a hora chegar das despedidas,
Amigos, não consultem os relógios.

Pois horas eu vivi tão bem vividas
Que as cantarei em salmos eloquentes
Quando um dia eu me for de vossas vidas.

Em frações de minutos repartidas
Essas horas não foram, por contentes,
Em seus fúteis problemas tão perdidas.

E se querem fazer-me apológios
Não mos façam como os da negra sorte,
Que até parecem mais uns necrológios...

Sejam mais como beijos de consorte
E não como areia de ampulheta,
Porque o tempo é uma invenção da morte.

A natureza, à sua maneira
Do tempo desconhece esta faceta;
Não o conhece a vida - a verdadeira.

Para tornar tristeza em alegria
Eventos há - a alma é parceira -
Em que basta um momento de poesia.

Não queiras tu tapar Sol com peneira,
Pois basta de um segundo uma fatia
Para nos dar a eternidade inteira.

Inteira como o é uma caverna
Onde há túneis infindos sem saída;
Inteira, sim, porque essa vida eterna

Em divisões nunca será partida;
Toda fração é una e sempiterna,
Somente por si mesma é dividida.

Assim inteira é da glória a ação:
Na derrota ou vitória aos soldados
Não cabe, a cada qual, uma porção.

Heróis e mártires serão amados
Eternamente, sem qualquer senão;
E os Anjos entreolham-se espantados,

Buscando tontos resposta pedida,
E ficam sempre em grande confusão
Quando alguém - ao voltar a si da vida,

Do Paraíso a alma no portão,
Do fútil que é o tempo esquecida
Acaso lhes indaga que horas são...

 

domingo, 6 de setembro de 2015

Minhs Pátria

Minha Pátria
Minha Pátria não é o maior rio do mundo.
Não é o pulmão do Planeta.
Não é um país-continente.
Minha Pátria é gente.
 
Minha Pátria não é guerra - são guerreiros.
É Amor, é Dor, é Vida,
É o dedo na ferida,
O protesto, a indignação.
 
Minha Pátria são amigos,
São irmãos, filhos e netos.
São os sonhos realizados,
São aqueles não sonhados
(Não só meus - os teus também).
 
Minha Pátria está nas ruas,
Nas oficinas, nas casas,
Nos balcões de atendimento,
Nos hospitais, nos quartéis,
Nos estádios, nos teatros,
Nas praças e nas esquinas,
Nos mercados, nas vitrinas,
Nos esportes populares,
Nos eventos culturais;
 
Minha Pátria está nos jazigos,
Nas escolas, nos abrigos,
Nas filas dos bancos
Nos trens de subúrbio,
Nas balas perdidas,
Nos bondes sem freios.
 
E neste Dia da Pátria
Ela está principalmente
Naquele grupo da frente
De velhos e anciões
Que abre o desfile imponente
Para tanques e aviões
(E a cada ano que passa
Diminui constantemente).
 
Minha Pátria sou eu.
És tu. Somos nós.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Adivinha


Adivinha o que qui é
Em cada cova treis grão
Prantado no São José
Pra coiê no São João
Sete espiga em cada pé
Bem cozido no fogão
Acompanha capilé
E uns trago de quentão
Correndo de buscapé
No estouro dos rojão
A quadrilha vai no pé
A sanfona vai na mão

No arraiá de nhô Zé
Num pode soltá balão...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Namorados


Foste de mim a única poesia,
Meu verso simples um amante foi-te,
Buscando conquistar-te a cada dia,
Querendo seduzir-te a cada noite.

Pelas manhãs de todos estes dias,
Ao ver-te o meu coração cantava;
E a cada noite, quando tu te ias,
Na minha alma a luz se apagava.

Toquei teu corpo e senti tua boca
Trazendo-me a esquecida ânsia louca,
E teu perfume doce a mim veio.

Amada minha! Fica hoje comigo!
Quero que encontres em mim teu abrigo,
Quero abrigar-me em teu macio seio!

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Meia noite. Lua alta.
O desejo me assalta.
O sopro que você sente
É o meu hálito quente
Em busca da pele nua,
Faminto da carne tua
De que sinto tanta falta!

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Mando-te um abraço quente,
Carinhoso, envolvente,
Coração com coração
Mesmo ainda que a gente
Com jeitinho se esquente
Com uns goles de quentão.
E por sentir-me carente
Aguardo impaciente
As festas de São João...

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Os dias delas

      (Nota: impossibilitado temporariamente de muito digitar, apelo para textos antigos para manter este blog ativo. Esta é uma reedição adaptada do texto original de 2012).

     Com o Dia das Mães ocorre o mesmo que acontece com o Dia da Poesia: ao redor do mundo, ele é celebrado em datas diversas. Eis algumas:
   2º domingo de maio – Estados Unidos, Brasil, Dinamarca, Finlândia, Japão, Turquia, Itália, Austrália e Bélgica;
     2º domingo de fevereiro – Noruega;
     2º domingo de outubro – Argentina;
     2º dia da primavera – Líbano;
     1º domingo de maio  Portugal, Espanha, África lusófona;
     10 de maio – México;
     Último domingo de maio – Suécia;
     4º domingo da Quaresma – Inglaterra.
     Há outras, mas mesmo assim é pouco. Na minha opinião, deveriam ser, no mínimo, 365 datas em cada ano.
     Aqui no Brasil não é raro que esse dia aconteça em 13 de maio. E aí, temos três motivos para festejar:
     1 - Nossa Senhora de Fátima - Portugal, mundo católico em geral;
     2 - Abolição da escravatura - Brasil e África;
     3 - Dia das Mães - Brasil e metade do mundo.
     Em homenagem a elas, transcrevo um conhecido acróstico em inglês:

     Mothers are the place that we call home.
     On them we rest our heads and close our eyes.
     There's no one else who grants the same soft peace,
     Happiness, contentment, sweet release,
     Erasing nighttime tears with lullabies,
     Restoring the bright sun that makes us bloom.

     Tentei "traduzi-lo", mantendo a métrica, o esquema de rimas ABCCBA e as iniciais de cada verso:

     Mães são o lar da ternura e harmonia
     Onde nos entregamos a um doce encanto
     Tranquilos, seguros, confiantes, serenos,
     Haurindo a paz e os sonhos amenos,
     Esquecendo os medos num suave acalanto,
     Revivendo a luz que nos traz a alegria.

     A elas, também, a minha Canção da Vida:

Mãe! Tu és o solo fecundo
No qual germina a semente
Em corpo, alma e mente
Dos filhos todos do mundo.

Tu és o amor mais profundo
A beleza inconsciente
A Deusa que toda gente
Venera a cada segundo.

Em teu seio hoje deponho
Um poema, um canto, um sonho,
Em louvor a ti, ó Mãe;

Dou-te um abraço e um beijo
E brindo-te neste ensejo
Numa taça de champanhe.

     Nota: a rima de "mãe" com "champanhe", foneticamente perfeita nos falares brasileiros, é, se não me engano, sugestão do nosso saudoso Chico Anísio.

Niterói, maio de 2012 / maio de 2015
Rodolfo Barcellos